"Don't get me wrong
If I'm acting so distracted"
-- não é tão fácil assim, não. Don't Get Me Wrong, dos The Pretenders. A Chrissie Hynde tem um apartamento no Copam, sabia?
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A Haddad me dizia que, por um dia só, ela queria ser alcóolatra, só pra ter aquela tremedeira e tudo mais, passar mal mesmo por não ter cachaça. Sentir na pele o que é perder o controle sobre a coisa, tomar um copo e não conseguir parar mais. Eu já tive vontade de ter outra coisa, por um dia só. Ou por alguns dias, alternados de preferência. A Síndrome de Tourette.
"Síndrome de Tourette é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques involuntários, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizaçõesque ocorrem repetidamente da mesma maneira. (...) A cropalia enquandra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas de Tourette, se vêem obrigados a repetir palavras obscenas e/ou insultos. Obviamente as conseqüências desse tipo de comportamento geralmente se traduzem em diferentes graus de desvantagens no âmbito social."
Quem já assistiu a "Gigolô Por Acidente" (Deuce Bigolow: Male Gigolow) deve se lembrar da loirinha do primeiro filme que não conseguia se controlar de soltar palavrões, até que ele a leva a um jogo de baseball, onde ela puxa a torcida junto com ela. Não que um jogo do Timão precise de alguém assim, porque nós já fazemos barulho o bastante, mas e na sala de aula, a vontade que não anda me dando de ter um ataque desses? Ah, se eu pudesse...
Mas não é de hoje que eu uso e abuso das minhas "vocalizações", não mesmo. Sempre gostei de falar palavrão, acho que um bem colocado numa frase é praticamente insubstituível, não importa o quanto minha mãe tente me convencer do contrário, ou minha chefe fique horrorizada quando eu pergunto algo como "Onde fica essa porra?" quando ela me fala de uma casa de aluno que fica, na boa, na casa do caralho. Pode não ser exatamente demonstração de finesse e elegância, mas é uma ótima válvula de escape, sem a menor sombra de dúvidas. Exemplo disso é que, com ou sem Síndrome, ver jogo pra mim é motivo pra desfilar palavras de baixo calão. E a Marina, amiga minha, escreveu um poema que diz exatamente o que eles significam pra mim, às vezes - nada, são palavras. Diz ela: "Que mal tão grande pode fazer/Se é sempre dito em vão?". Minha avó tentou me convencer de que era pecado, mas até que ela me mostre na Bíblia onde Jesus diz isso e faz sua listinha, eu vou continuar usando, quando possível.
Às vezes até mesmo acho que a Dercy é minha "ídala", porque ela é brincadeira. Dercy FUCKIN' ROCKS! E curiosamente a mesma avó me ensinou a relacionar o cu e as calças numa pergunta que minha mãe detesta.
Sem contar que nada, mas nada mesmo, substitui um "Caralho!" bem colocado. Deixando de lado a ambigüidade da frase, é verdade. Toda vez que me perguntam qual minha palavra favorita em português, vou direto nele: caralho. Não é 'saudade'? Caralho. Nem alguma coisa que só nós temos, que transmite um sentimento de blá blá blá? Não, é caralho. E não é porque eu sou um cara amargurado ou rancoroso (por mais que eu ande assim), mas é simplesmente porque é o tipo de palavra que substitui um monte de explicações e comentários, gestos e resume sentimentos. É mais ou menos como o "Fudeu", sabe? Bateu o carro, ou vê aquele gorila vindo pra cima de você com uma cara nada amigável porque você passou a mão na bunda da namorada dele. Estufa o peito, olha pra cima e solta... "Fudeu!". Vááááárias vezes passei por isso.
Eu falo assim até de comida, juro. Na mesa, me perguntam se eu quero alguma coisa um nome grotesco, que parece com o ranho de um monstro que saiu das obras do Tolkien. A resposta é a mesma, na lata: "Que bosta é essa?". A mãe de uma amiga minha ficava louca, mas não era por maldade... tudo bem, com ela era meio que piada, mas não falo isso pra denegrir, até porque falo assim da minha própria comida, numa boa. No caso do frango na cerveja, era a mais pura verdade, mas falo de boa mesmo. E como com gosto, sem ficar com "nojinho" porque falei uma dessas, quem me conhece sabe.
Por hora, enquanto não descolo um atestado falso do Tourette, vou ter que dar um jeito de manter a postura e dar sorrisos no social. E até controlar um pouco, porque ultimamente eu ando falando o dobro de palavrões, até mesmo a tal palavra que eu não falo, mas que algumas pessoas já ouviram (né, Batotis?). Se alguém souber como eu consigo, me avisa, por favor, pra eu poder chegar no trampo e justificar porque mandei um aluno pra puta que pariu ou perguntei se ele não queria ir tomar no cu e parar de me encher o saco. Só isso que eu peço. É demais?