domingo, 25 de fevereiro de 2007

Aos Amigos

"Ai ai!"


Autoridades presentes, professores, pais, colegas formandos e amigos, bom dia.

Sempre que vamos a uma colação de grau, já esperamos um evento meio formal, com um tanto de discursos que às vezes fazem um ou outro pai pescar ali no meio da audiência – nada, aliás, que nós não tenhamos feito em sala, fosse Literatura Brasileira ou Teoria do Texto. Mas sempre temos um discurso mais descontraído que é, justamente, aquele que vai falar da turma, contar histórias nem sempre engraçadas ou que não fazem o menor sentido, mas que deixam todos com um pouco de vergonha e até fazem brotar uma lágrima ou outra aqui e ali. Foi isso que eu vim fazer hoje, e ao mesmo tempo sinto que fiquei com a parte mais legal e a mais difícil também, uma peculiaridade da Letras. Falar dos professores, com gente tão boa como temos, fica até meio fácil, só tendo que tomar cuidado pra não babar demais no ovo do sujeito e dar a impressão que somos apaixonados por alguns deles. Falar dos pais também não tem muito erro, mas daí eu já estaria entrando nos discursos dos outros, e aí vai ter gente dormindo mesmo, porque discurso repetido não dá.

O porquê de eu estar falando isso é justamente a falta desse sentido de turma com que a Letras nos presenteia ao longo dos 5 anos – prova disso é que não somos a Letras 2002, mas acho que poderíamos dizer a “Letras ’99 a ‘03”, tamanha a salada de anos a gente tem aqui hoje. Infelizmente, não posso dizer alguma coisa sobre cada uma das pessoas aqui presentes, por mais que essa fosse a minha vontade, e por isso mesmo gostaria de estender essa homenagem não simplesmente aos colegas, ou mesmo aos formandos, mas aos amigos, sejam eles quem forem. Nossos pais nos apóiam, os mestres nos guiam (e às vezes nos reprovam), mas quem realmente está lá quando a gente precisa de um jeito que os pais não podem ajudar são nossos amigos. Você não chega chorando por conta de ex para seus pais numa véspera de prova, crente que vai ter um ombro amigo pra te consolar, quando na verdade seu amigo tem intimidade o suficiente pra te mandar pra um lugar onde não bate sol, sentar e fazer a prova. Ou mesmo quando você passa um pouco da conta numa festa, é seu amigo que vai parar de beber pra te ajudar (e isso eu sei bem) e depois vai tirar com a sua cara, mas sem ressentimentos, ou sermões, porque sabe que quando chegar a vez dele você vai estar lá. E isso tudo faz parte da vida universitária porque ela, mais do que qualquer outra fase, te ensina não só a fazer análise literária (o terror do aluno da Letras, ainda mais no primeiro ano) ou a montar árvores de análise sintática que vão ser o pesadelo de algum aluno de colegial. A gente apanha, aprende a economizar dinheiro, a cozinhar, vê que algumas coisas que seus pais dizem não fazem o menor sentido, e isso em português bem claro, e tudo isso sempre com os amigos conosco, seja nos ajudando, seja nos dando a chance de ajudar e aprender, seja descascando um mesmo abacaxi a quatro mãos e alguns palavrões. A natureza priva algumas pessoas de ter, ou melhor, de termos irmãos, e isso pode até parecer um privilégio quando você pensa no quarto que é só seu, mas a vida se encarrega de te dar alguns. Geralmente poucos, mas bons. Ah, sim: dizer “termos” para “algumas pessoas” é silepse de pessoa, então está certo, antes que digam que um sujeito da Letras cometeu uma gafe no discurso.

Mas do jeito que eu estou indo parece que não tem disso, dessa amizade toda, na Letras, o que seria uma mentira. Minha mãe sempre me disse que seria na faculdade que eu faria os amigos que eu levaria comigo para a vida, e ela tem razão. Do mesmo modo como fiz amigos no colegial que tenho o prazer de ver aqui hoje, sei que fiz amigos na faculdade que vou ver em outras ocasiões tão especiais quanto esta de hoje, por menos que pareçam. Afinal de contas, sentar num boteco pra bater papo e tomar cerveja não tem o glamour de uma formatura, mas ainda assim vai ser um daqueles momentos especiais pra quem estiver lá. E não precisa nem ser o Rei das Batidas depois a aula, ou mesmo durante ela. Tivemos, sim, momentos que uniram os alunos, e em que nos mostramos amigos. Quem não se lembra do desespero antes de uma prova de Estudos Clássicos na biblioteca? Prova de Latim sem dicionário, em duplas de oito ou dez? Com o perdão da palavra, quando a água batia na bunda, a gente descobria que conhecia e gostava mais das pessoas do que achávamos, e isso muitas vezes não se restringia a provas ou trabalhos. Trabalhos estes, aliás, que muitas vezes pegávamos emprestados para dar uma olhada e tirar algumas idéias, mas isso SEMPRE depois que já tínhamos entregue os nossos, é claro, nada de cópia. Imaginem, alunos da USP fazendo isso? Nunca! Muitas vezes, um bandeijão (para os mais corajosos) ou mesmo uma matada de aula pra bater papo já mostravam que há, sim, camaradagem e amizade na Letras, e que isso podia sair do nosso prédio. Pode ir até ao Rio de Janeiro, ou até o buraco do Metrô.

Posso falar por experiência pessoal que eu tenho, sim, gente aqui em quem eu confio e de quem eu gosto muito. A gente vê essa importância que temos para alguém talvez da forma mais dolorosa, magoando e sendo magoado, mas isso faz parte de todo o aprendizado que temos juntamente com as tais análises e as línguas. Podemos ver que temos com quem nos abrir e matar aula pra jogar truco, conversar sobre literatura e problemas com o namorado ou namorada, dividir alegrias e incertezas, acadêmicas ou não, além dos tais trabalhos sobre que já falei. E ter feito parte da comissão de formatura, apesar de todo o trabalho que nos deu, valeu principalmente por isso: por conhecer essas pessoas, que poderiam ter passado batidas, sem que parássemos pra trocar um “oi” e acabar conversando sobre o futuro, ou até mesmo rolando no barranco levemente alterados. Confesso que o sentimento que pairou no ar pra mim foi muito bem expresso por uma colega, dizendo “como que a gente não se conheceu antes?”. Pois é, foi preciso a gente quebrar a cabeça, pagar mico entrando de sala em sala, ter dor de cabeça depois de reuniões de 5 horas sem almoço e passar dias respondendo e-mail pra poder ouvir uma dessas. Digo mais: mesmo essa parte chata da coisa toda foi amenizada por saber que estava entre os bons amigos que fiz na comissão, mesmo com um bate-boca ou outro.

O que mais me alegra de estar aqui hoje, além de ter uma visão de que a faculdade acabou,- e que por isso podemos ir para celas especiais antes do julgamento -, por mais que a gente goste dela e o suspense vai até o diploma chegar, é ver todo mundo junto. Acho que é a primeira vez, aliás, que conseguimos colocar todos os formandos juntos, e olha que é sábado de manhã. E ver esse pessoal todo me faz ver, finalmente, uma turma de formandos, que lutou por anos até chegar aqui. “Lutou”, porque pegar ônibus lotado, encarar sala entupida de gente sem ventilação, livro que fazia a gente espirrar de tão antigo, encarar fila no xérox, fila na Seção de Alunos e agora há pouco fila até pra beca, não são coisas pra qualquer um. Mas, estamos aqui, e por isso eu dou os parabéns para todos nós, porque passamos por cima de muita coisa, começando talvez até em casa, e seguindo pela sociedade e pelo mercado, mas eu não vou entrar num discurso que seria rotulado como algo “típico da FFLCH”. O fato é que chegamos aqui graças, em grande parte, a essas pessoas, em especial a todos aqueles que compartilharam da mesma via crucis.

Gostaria de fechar com uma citação. Tentei fugir do lugar comum de achar algum escritor, como se espera da nossa faculdade, mas mesmo assim foi difícil, então acabei por seguir à risca minha sina de Letras: fecho com um escritor, Albert Camus, argelino ganhador do prêmio Nobel. Cai como uma luva e vocês, colegas, amigos, saibam que eu as digo com sinceridade, pois ela reflete muito bem aquilo por que passamos. Diz ele:

“Não caminhe na minha frente, eu não posso seguir. Não caminhe atrás de mim, eu não posso conduzir. Apenas caminhe ao meu lado, e seja meu amigo”.

Espero que eu tenha sido para vocês o que eu sei que vocês foram pra mim, e por isso eu os agradeço de coração, com a esperança de ainda possamos caminhar juntos bastante.

Obrigado.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Se tem filmes que te dão um "soco", esse leva a nocaute; é com certeza o filme-fábula mais triste e mais bonito que já vi. Às vezes ter a chance de almoçar em casa, ter o DVD e poder rever uma coisa assim compensa ficar em casa no carnaval, ter que pagar uma paulada no cartão e gostar de ver filmes sozinho. E o melhor de tudo é ver o que vem depois disso, já que as últimas cenas, do corredor e da praia, são de uma simplicidade e de uma beleza quase incomparáveis.

* * *

Joel: [In the house on the beach] I really should go! I've gotta catch my ride.
Clementine: So go.
Joel: I did. I thought maybe you were a nut... but you were exciting.
Clementine: I wish you had stayed.
Joel: I wish I had stayed too. NOW I wish I had stayed. I wish I had done a lot of things. I wish I had... I wish I had stayed. I do.
Clementine: Well I came back downstairs and you were gone!
Joel: I walked out, I walked out the door!
Clementine: Why?
Joel: I don't know. I felt like I was a scared little kid, I was like... it was above my head, I don't know.
Clementine: You were scared?
Joel: Yeah. I thought you knew that about me. I ran back to the bonfire, trying to outrun my humiliation, I think.
Clementine: Was it something I said?
Joel: Yeah, you said "so go." With such disdain, you know?
Clementine: Oh, I'm sorry.
Joel: It's okay.
[Running Out]
Clementine: Joely? What if you stayed this time?
Joel: I walked out the door. There's no memory left.
Clementine: Come back and make up a good-bye at least. Let's pretend we had one.
[Joel comes back]
Clementine: Bye, Joel.
Joel: I love you...
Clementine: Meet me... in Montauk...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Two Worlds

Roubado de um colega cast member de BH, essa foi a carta que a manager dele o escreveu na hora de voltar. E se você foi CM, tem mais do que o direito de se emocionar.



Months have passed and you now stand on the brink of returning to a world where you are surrounded by the paradox of everything and yet nothing being the same. In less than one week you will reluctantly give hugs and fighting the tears to say goodbye to the people who were once just names on a sheet of paper to return to the people that you hugged and fought tears to say goodbye before you left. You will leave your best friends to return to your best friends.

There have been times we have felt so helpless being hours from home, when our friends and family's needed us the most, and there are times when we know we have made the difference. You will go back to the place that you came from, back to the same things you did last semester and the semester before. You will come into town on that same familiar road, and even though it's been months, it will seem like only yesterday. As you walk in to your old bedroom, every emotion will pass through you, as you reflect on how your life has changed and the person that you have become. You suddenly realize that the things that were important to you months ago, don't seem to matter so much anymore, and the things that you hold highest now, no one will completely understand.

How long until you adjust to sleeping alone in a room again? Then you start to realize how much things have changed, and you realize the hardest part is balancing two completely different worlds that you now live in. Trying desperately to hold on to everything, while trying to figure out what you have toleave behind. In a matter of one days travel time, you will leave your world of living next door to your best friends, walking to Wallgreens and Bennigans, going to the Ale House and PI, and guest's insisting that because they have a hand stamp, they have access to everything.

You will leave your Fantasyland to face the real world.

Four days from now, you will leave. Four days from now you will take down pictures, pack up clothes. No more going next door to do nothing for hours on end. No more guests asking, "Where do I put this ticket?", "What's the point of a hand stamp?", and "Does this train come bacl here?" And for the last time, "The bathroom os outside, to the left, between City Hall and the Firehouse.". You will take your memories and dreams and put them away for now, for your return to this fairy tale world.

In just four days you will dig deep inside to find the strength and conviction, to adjust to the change, and still keep each other close and somehow and in some way you will find your place in these two worlds.

ºoº Don't cry because it is over. Smile because it happened. :)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Eu gosto, mas...

...dá uma vergonha!

Sim, todo mundo tem aquela música que ama, sabe cantar inteirinha, talvez até uma coreografia, mas NUNCA admite em público, ou simplesmente se cala diante dos comentários. Ainda mais se o sujeito é (sou?) daqueles que gosta de rock, seja qual for a vertente, porque aí rola toda uma imagem que tem de ser mantida. E não tem que ser poser dos tempos do hard rock (vulgo "metal farofa"), com cabelão e jaqueta de couro, além de uma coisa de macho à Dee Snider (Twisted Sister), ou mesmo os pessoal do Kiss, que já traçou milhares de mulheres. Até quem se emociona com Belle & Sebastian tem dessas.

E o que há de errado? Nada! A gente pode, sim, amar ouvir AC/DC e se emocionar com as letras rasgadas do Thom Yorke, suspirar ouvindo músicas sobre o amor ou mesmo se revoltar contra o sistema embalado por Dead Kennedys, mas sempre temos nossos "pecados" musicais. Eu tenho, tu tens, nós temos. Faço aqui um Top 5 mais do que merecido: "Músicas Que Ouço, Mas Tenho Vergonha".

1. Reginaldo Rossi - "Garçom"
2. Spice Girls - "Say You'll Be There"
3. Leandro & Leonardo - "Um Sonhador"
4. Fábio Jr. - "Só Você"
5. Bryan Adams - "Have You Ever Really Loved a Woman?"

Sem explicações, porque ficaria longo. E daí que o Bryan Adams tem a primeira música que eu consegui ouvir e tirar a letra? Não tem problema. O fato é que eu gosto, canto, tenho vergonha, mas admito.

E aí, você tem vergonha de quê?

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Quem lê, viaja!

O engraçado de escrever um blog é que, depois de ver tantos casos de sucesso por aí na internet, você não deixa de ter uma certa esperançazinha de que pessoas leiam o que você escreve, e comentem, de preferência. Não de comentários do tipo "Ai, amigo, adorei!", mas mostrando que tenham lido. Quando eu tinha um flog era mais ou menos isso, mas lá ainda tem as fotos pra atrapalhar.

Só que o mais recorrente é que ninguém nem lê, a menos que seu post tenha 5 linhas. As pessoas sofrem de um mal que me desanima, porque é coisa séria: preguiça de ler. Pura e simplesmente isso. E não estamos falando de livros com mais de 500 páginas, como obras-primas como Grande Sertão: Veredas (624 páginas, na minha edição), mas de ler, coisa mais simples do mundo. E o que me assusta é como os meios de comunicação, ao invés de lutarem contra isso, cada vez mais se curvam a essa tendência sem vergonha. A Super Interessante, por exemplo, não tem reportagens com textos que dariam, sem os gráficos e imagens, mais que 5 páginas. Triste.

Achei um poema sem querer na net, de um aluno português de 14 anos, João André Soares. Não vou colocar tudo aqui, mas o verso final resume bem uma coisa: "Afinal, o livro é um amigo... o amigo...". Sempre disse que vejo meus livros como amigos meus, que por vez ou outra tenho o prazer de reencontrar, seja rapidamente, seja por um longo tempo. E ele está sempre lá, pronto pra te acompanhar, te entreter, te fazer pensar, rir, chorar. Como alguém pode ter preguiça disso? Talvez a culpa não seja da TV, nem do orkut, por mais que nós passemos mais tempo com eles do que com um monte de papel, mas de nós mesmos, e dos pais que não incentivam seus filhos, seja dando um livro ou dando um exemplo.

Uma vez, assistindo a Seinfeld, o Jerry me solta uma sobre as pessoas e seus livros, que ele não entende por que os queremos depois de lidos, como se fossem algum tipo de troféu na parede. Eu gosto pacas do seriado, ams isso foi uma besteira sem tamanho. E uso meu exemplo pessoal, meu "melhor amigo". Quem nunca leu, tem que ler. Quem já leu, precisa ler de novo. E isso vem de quem o fez 4 vezes, e uma delas em inglês. A mágica nunca o deixou, e cada vez se mostra de forma diferente, como se mostrou para minha mãe, se mostrou para minha prima e para uma aluna minha. Todos lemos a mesma edição. Me despeço deixando vocês (?) com ele, se é que alguém ainda está aqui, lendo até o fim.






segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Pérolas

Coisas que se diz por aí que não dá pra acreditar.

(em tom jocoso, no bar, ao som de "Iris")
- Essa música... e essa lua... acho que vou chorar!
- "Eu não devia te dizer, mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo."
- Quem canta isso mesmo?
- ... É Drummond!
- ... Acho que eu preciso pegar outra cerveja.
- Também acho.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

É pra mim?

Quem nunca se pegou lendo um texto e, de repente, parou com aquela estranha sensação de "isso foi escrito pra mim, só pode ser!" seguida por uma ânsia de ler mais e mais. E o lado racional, é claro, por um momento vai para o saco, porque não dá pra controlar o conforto que aquilo te traz, porque afinal de contas alguém parece te entender, saber exatamente o que você está sentindo, ou uma barra por que está passando.

O exemplo mais banal, de longe, é horóscopo. Vamos ao meu de hoje, sou de Aquário (e estamos sempre 1000 anos à frente dos outros):

"Sexta, 02 de Fevereiro de 2007 - A passagem de Mercúrio por Peixes, até 27/2, é um bom momento para refletir a respeito de tudo o que você considera como valores em sua vida, do material ao espiritual. Talvez você se veja mais envolvido em negócios e finanças do que o normal e, se usar bem a cabeça (o que inclui organização e planejamento), pode melhorar a situação de seu bolso."

Mais vago, impossível. Do material ao espirital? Claro, até porque tirando os dois e tudo que há no meio, o que sobra, o "oculto"? A palavra "talvez" ali no meio é boa, porque fica no 50/50, assim como o tal de "pode", até porque dão uma brecha ao autor (picareta?) caso as profecias não se concretizem. Mas que dê um passo à frente aquele(a) que nunca leu um horóscopo por ler e soltou um comentário que mostrava como aquilo batia, ou pelo menos pensou e não falou pra não dar o braço a torcer. Aquelas revistas, por exemplo, do João Bidu ou sei lá eu quem são uma tentação! É simplesmente impossível não pegar aquela que ficou jogada em cima da mesa pra dar uma espiada, ainda mais quando ela tem previsões para o ano. Eu mesmo me peguei lendo uma para mim e para a minha chefe, que dizia não acreditar mas a cada parte soltava os seus "Puta, é verdade!" ou "Caraca, preciso falar com o meu marido". E aquele tom de piadinha não me engana.

Mas, é claro, tem coisas mais sérias. Colunas de jornais e revistas, como a Folha nos cadernos Equilíbrio ou a Pensata (da internet, que tinha a coluna do popstar indie Lúcio Ribeiro), são um verdadeiro terror pra quem tem alguma aflição, porque qualquer comentário vai ressoar com o poder de um eco dentro de nós mesmos. Ontem mesmo eu "tive" disso, porque recebi um e-mail de uma pessoa que leu uma coluna da Suzana Herculano-Houzel sobre saudade e uma parte especificamente parece ter batido e bem, assim como bateu em mim, talvez com um pouco menos de impacto. O texto é interessante, ainda mais para quem passa por um momento de "crise" do tipo saudade x futuro, porque leva ao pensamento. Aprendi na faculdade que, mais do que nos fazer ver beleza estética, bons textos devem incitar o pensamento crítico, a reflexão, por mais que muitas vezes a gente leia pura e simplesmente para nos divertirmos. Que o diga meu bom e velho Homem-Aranha, fiel companheiro há pelo menos 14 anos.

Talvez mais até do que textos, músicas têm um poder impressionante sobre nós, pobre mortais com corações por vezes dilacerados. Claro que quando tudo está bem é legal, mas e ouvir Legião Urbana, The Smiths e, mais recentemente, Los Hermanos quando se tem um coração partido é tenso. Muito tenso. Versos como "E não pensa que eu fui por não te amar" ("Adeus Você") logo após o fim de um relacionamento são tortura, ainda mais quando o fim foi incerto, e Renato Russo poderia completar com um ótimo "Vai ser difícil sem você/Porque você está comigo o tempo todo" ("Ventos no Litoral"). Quem nunca chorou ao ouvir isso, se reconhecendo na música? Poderia ir aqui por horas e horas, e dar exemplos bonitinhos como "But every now and then I feel so insecure,/I know that I just need you like I've never done before" ("Help!") dos rapazes de Liverpool. Ah, não é amor? Tudo bem, sempre vai haver aquela música que fala sobre como não precisamos encarar as coisas sozinhos quando somos teimosos e não nos abrimos, ou mesmo uma música para expressar quão inútil nossa vida é (nesse caso, procure ajuda).

Filmes, por sua vez, têm o mesmo impacto, às vezes maior, porque é um caso de sentar e prestar atenção. "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" seria um clichê aqui? Sim, sim. Mas e daí? A vida é cheia deles. Na indecisão sobre o que fazer com aquela pessoa de quem se gosta, mas não existe coragem para se declarar? Tudo bem, "Melhor É Impossível" dá conta do recado e muito bem. Não é a toa que tantas pessoas que assistem ao ótimo "O Fabuloso Destindo de Amélie Poulain" ficam com uma sensação de que todos temos um pouco dela, mesmo porque temos mesmo.

Termino isso aqui justamente com algo que me fez parar. Um texto? Não, dois simples versos de "Love Ain't No Stranger". Velharia, mas da boa. E faz sentido, com uma leve variação.

"Broken hearted people staring at me,
All searching 'cos they still believe,"