quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Post-it

"But I'm fractured from the fall
And I wanna go home
I'm fractured from the fall
And I wanna go home"

-- Two, de Ryan Adams, acabou de tocar aqui.

* * *

A gente sabe das coisas mesmo antes de fazer, e hoje comprovei que tirar post-it colorido pode ser mais doloroso do que tirar band-aid do joelho.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Inconveniência

"Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
And Pretend that he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind."

-- Blowin' In The Wind valeu uma indicação ao Nobel de Literatura para Bob Dylan, o "poeta do rock".

* * *

Desde pequeno, tudo que me cai nas mãos e tem letras, eu leio. Passo atrás de alguém no computador, eu leio, sem querer, mas leio. Bula de remédio, manual de instruções, eu leio. Dirigindo, com livro no colo, ou placas, eu leio, e bato o carro. Bêbado, numa festa, com A Revolução dos Bichos em pocket, no meu bolso, sentei e comecei a ler. Clássicos, modernices, consagrados, subestimados, poesia, prosa, porcarias, ténicos, eu leio.

Daí vêm os blogs, e eu começo a ler os outros, amigos ou não. Eu vou lá, (re)começo o meu, recebo elogios, mas falta alguma coisa. Leio outros, escrevo mais, e continua faltando. E me vem aquela inquietação, um não sei o quê incômodo. Gosto cada vez mais do que os outros escrevem, e me anima saber que tanta gente escreve tão bem e, infelizmente, nunca vai ser publicado, porque o mundo não funciona mais assim. Tanto posts mais poéticos quanto os mais revoltados, tudo me agrada, e me incomoda.

Não é que quero o lirismo comedido, bem-comportado ou que não é libertação, nem busco o lirismo dos loucos, difícil, dos bêbados (esse quem sabe). Só queria poder ler o que escrevo e gostar mais, achar menos pedante, menos hipócrita, menos bobo. Parece que fica entre o deboche e o sério, quase uma coisa de auto-ajuda, não chega à irônia que eu quero, mas não é tão maçante assim. Consigo chegar a algum lugar?

Entre uma divagação e outra, esse post que vai me render mais um incômodo, eu volto, frustrado, para os meus livros que têm, cada vez menos, esse lirismo que Bandeira quer e, mais importante, tem.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Daslu

Eu ia postar sobre as eleições, mas esse texto merece ir na íntegra. Essa é nossa classe média e alta. Será que agora consigo pessoas pra me ajudar a colocar bombas na loja - com as consumidoras dentro dela?

A parte em negrito é grifo meu, e me fez ficar com vontade de achar essa mulher, amarrar a condenada num poste e queimar todas as bolsas e sapatos dela na frente dela.

* * *

Em dia de eleição no Brasil, patricinha paulistana elege Daslu e fica na fila de bazar

PAULO SAMPAIO

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos eleitorados mais fiéis de São Paulo esperou ontem até três horas em uma fila cheia de curvas para "dar seu voto" ao bazar da butique Daslu, inaugurado em um galpão da Vila Olímpia (zona sul) e com descontos de até 90% nas grifes.
Entre as 11h e as 15h30 -quando o repórter precisou sair para votar-, o bazar recebeu cerca de 1.200 pessoas.
Patricinhas levemente coradas (depois de aplicar o "bronzing powder, da MAC"), cabelos esvoaçantes e bolsas gigantes contavam que seus candidatos eram Alckmin e Kassab, nessa ordem -mas ambos perdiam de longe, nas conversas, para nomes como Chloé, Valentino e Tod's.
Marta, freguesa das grifes, era pouco -ou quase nada- votada ali: "Eu conheço a vida pregressa dela. O povo não sabe história do Brasil", disse, enigmaticamente, a empresária Ruth, 54.
A advogada Carolina Paione, 32, explicou seu voto para Kassab: "Tenho que garantir o emprego do meu marido, que é advogado na Subprefeitura de Cidade Ademar (zona sul). Eu garanto o emprego dele, e ele garante as minhas compras na Daslu".
Houve vaia para os eventuais furões de fila, aplausos quando entravam dez de uma vez e frustração por parte de quem não achava "uma peça que justificasse tanta espera".
Como a maioria das moças ali, a administradora de empresas Carol Viegas, 31, disse que não enfrentou fila para votar, mas se assustou com a espera de até duas horas para pagar. "Peguei três blusinhas "furrecas", ainda por cima da estação passada, e, quando olhei para a fila, larguei tudo lá. Pode pôr aí: maior "mico"."
De repente, próximo à porta de entrada, vaia: "Uuuuu!". Um rapaz tentou furar a fila. "A mulher dele está lá dentro, grávida!", apelam as cunhadas de Hali, dizendo que ele é judeu ortodoxo inglês e está pela primeira vez no Brasil.
"E daííííí?", grita a turba, agora duplamente corada.
Na fila, mulheres enfiavam o rosto nas sacolas das que saíam, perguntando "Valeu a pena?". "Olha, esquece as bolsas, não tem mais!", diziam as que vinham de dentro.
Uma funcionária da butique passou servindo garrafinhas de água, que, depois de consumidas, eram jogadas no chão. Dentro da loja, mulheres desbaratadas catavam ansiosamente peças pelo chão.
Nos provadores gigantes, muitas corriam peladas, arremessando longe o que não servia, como se estivessem em uma gincana nudista.
Depois de três horas e meia acompanhando o "happening", o repórter saiu para votar. Levou 1 min 40 s.