domingo, 30 de setembro de 2007

Motinha

Despedir-se de alguém é sempre muito chato. Claro que tem gente que, não dá pra negar, é melhor ver pelas costas do que pela frente, e eu não sou hipócrita pra dizer que isso não existe. Já dei muito tchau na minha vida rezando pra nunca mais ver o sujeito na minha frente, ou mesmo fiquei calado diante de um "a gente se fala", porque não era minha intenção fazê-lo. Pior ainda quando a pessoa diz que tá com saudade e sua vontade é de falar "eu não, sorry". Podem me chamar de amargurado ou algo assim, mas eu tenho a sensação de que eu já tive experiências o bastante pra saber quando dizer isso ou não, porque eu gosto só de dizer pras pessoas de quem eu vou sentir falta mesmo, sentir saudade, ficar triste em ver ir embora ou simplesmente subir num ônibus, entrar num taxi. Qualquer coisa do tipo.

Nesse sentido, parece muito que "tô com saudade" (ou mesmo "saudades") anda sendo banalizado como "eu te amo". Talvez por trabalhar com molecada de 15 anos, mais ou menos, eu fico vendo o tanto que eles escrevem isso, quando não um "xaudadi" ou "ti amu, miguxa" e coisas assim. Afe! Ver como os americanos usam o tal "I love you" é uma coisa que me deixa meio deprimido, porque se diz pra gente que mal se conhece, e não tô falando de paixões relâmpago ou algo assim. No, sir. E o Brasil segue o mesmo rumo, só que isso chega a ser pior com o lance da saudade. Talvez porque nós, que nos orgulhamos tanto de ter uma palavra tão carregada de sentido e bela em nosso léxico, estejamos fazendo com que ela vire outra palavra qualquer, que se diz pra qualquer bobo que passa na rua. Imagine isso no telemarketing. "Obrigado, senhor. Vou estar sentindo saudades, te amo", que horror!

Isso faz a gente pensar até um pouco na própria carreira, ao menos na minha: Letras. Tanta gente acha sem sentido, meio sem lugar no mundo hoje a não ser que seja tradução, e ainda assim tem que ser pro Harry Potter. Mas eu sinto que pra mim serviu pra mostrar o quanto palavras são importantes, como umas conversas no MSN claramente mostram, e isso não deve ser perdido. Nunca, de jeito nenhum, e quanto menos a gente cultiva uma cultura que mostra essa importância, mais cedo os sentidos vão se esvaziando. E o sentido de "estou com saudade" é grande, ao menos pra mim. Ter ido pra longe daqueles de quem eu gosto tanto desde mais novo me mostrou o peso que isso tem; queria que outros pudessem ver isso um pouco melhor em vez de soltar essas coisas a torto e a direito. É pensar um pouco, ver se vale a pena falar, e o fazer com mais sinceridade, really mening it.

Bom, bobeira da minha parte? Talvez sim, e talvez seja exagero meu, como eu achei de um cara uma vez que dizia que os americanos estavam estragando o inglês por dizerem "have a nice day" sem querer realmente dizer aquilo (pra mim, é ser minimamente simpático), até porque desejar um bom dia não mata ninguém. Mas isso tudo hoje veio por um motivo, além da vontade de escrever um post sobre isso. Poderia ter sido melhor, eu juro que já ouvi uma música que falava justamente disso, e eu até mesmo pensei em falar sobre como eu sinto saudade de mim mesmo - é, eu sinto mesmo. Só que hoje tinha motivo forte, pra mim.

Boa sorte, Flávio, ou Motinha, nessa empreitada. Acho que não preciso falar, mas rezei muito por você, e torço pra que tudo dê certo, e sua vida pelos próximos dois anos te faça crescer, te acrescente muita coisa boa. Nunca tive problemas em admitir isso, e não vai ser agora que vai ser diferente. Sempre senti e sinto já saudade de você, amigo. Vai com Deus, e se cuida pra voltar, porque você faz falta.


quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Chama a Marta, Dunga!

Olha, eu ia escrever um post bacana, tinha pensado em umas 3 coisas, uma delas uma "homenagem" que vem no fim de semana, mas depois de ligar a TV, não deu outra. Vou começar uma campanha:

CHAMA A MARTA, DUNGA!

Puta merda, quem viu o gol dela sobre os EUA ontem, no mundial da China, vai ter que dar o braço a torcer, mesmo que não goste de futebol. Obra-prima.

Morra de inveja, Ronaldinho Gaúcho, seu feioso.


quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Missiva

São Paulo, Brasil

Caro Edward Louis Severson III,

escrevo aqui a carta que sempre tive vontade de escrever para vocês. Curiosamente, eu que escrevo tanto, gosto tanto de cartas e não tenho maiores problemas em escrever em inglês, nunca o fiz. Falta de tempo, falta de um endereço... ou talvez simplesmente o medo de não ter uma resposta, e com isso ficar um tanto quanto desiludido. Coisa de fã.

Sabe, nem sei bem por onde começar, e acho que vai ser pelo fim. Esses dias eu tive uma felicidade enorme, quase sem tamanho, pra falar a verdade, e foi simples. "Redescobri" vocês, como que pela primeira vez, como uma criança que ganha brinquedo novo, sabe? Aquela coisa de "Meu Deus, como isso é bom!", mas com consciência, com o gostinho do novo de novo. Tanto que, desde então, só não tive a chance de ouvir de cabo a rabo dois discos, "Binaural" e "Riot Act". Mas o meu xodó... ah, o maravilhoso "Live On Two Legs", meu primeiro e favorito disco, esse já foi devorado, como já o fizera tantas vezes ao longo dos anos, desde 1999, ano em que os decobri de fato.

Curioso como toda uma geração no Brasil (e no mundo, eu diria) foi levada pelo Guns n' Roses, ou pelo Nirvana, enquanto que vocês fizeram seu barulho e, apesar de eu quase ter pertencido à primeira turma, só terem me "batido" coisa de quase 10 anos depois de lançarem o disco que para muitos é o que vocês fizeram de melhor. Não pra mim, infelizmente, apesar de "Even Flow" e "Black", por exemplo. O que me cativou, logo à primeira ouvida, foi o "Vs", disco que tem a música que digo com segurança: é minha favorita. Foi a primeira, e isso mesmo tendo visto o clipe de "Do The Evolution" em 1998 mesmo (aliás, sabia que fiz um trabalho final de comunicação, sobre Comunicação de Massa e o clipe? Me valeu um 10 redondíssimo!). Mas o fato foi que vocês vieram, fizeram as apresentações, e ficaram. Por isso, eu agradeço. Explico.

Confesso que na época eu estava indo pelo caminho sem volta do "Gosto de tudo um pouco", até mesmo ouvindo coisas de BSB pra baixo e cantando, mesmo um pagode ou outro. Mas conto isso não com vergonha, mas sim com um sentimento de gratidão a vocês e ao Rodrigo Duente, que me emprestou o tal disco que fez a diferença. A partir daí, comecei a mudar os gostos, e isso foi um processo complicado que teve a ajuda de dois grandes amigos, Marcos e Juliana (Berdz), já que meus pais ouvem de tudo e uma boa parte dos meus amigos também. Hoje, se entendo alguma coisa de música e posso dizer que tenho bom gosto, devo isso demais a vocês, que me deram a mão e mostraram por onde ir. Curiosamente, aliás, a imagem por trás do disco é de uma mão. E sim, eu sei que o disco se chamaria "5 Against One". Não ligo.

Sabe, quando comecei a ouvir vocês pra valer e correr atrás dos discos antigos, já que até então tinha apenas o ao vivo e "Vs", passei a ler sobre vocês, a briga com a Ticketmaster e ver clipes, mas o engraçado era entrar numa sala de bate-papo com seu nome, noite após noite. Me divertia horrores.

Mas, voltando ao começo, ou seja, o fim, fico grato. Hoje tive um dia de overdose, vi todos os clipes e apresentações que consegui, revi meu "Single Video Theory" (meu único DVD de música, presente da Thelma) e percebi que vem desde o último álbum, que me fez sentar e os ouvir novamente, sem pensar em como o que tinha sido feito antes era melhor. "Wasted Life" e "Worldwide Suicide" entraram para as favoritas, que caberiam em alguns Top 5 e sem ordem, porque pérolas como "Given To Fly" ou mesmo "Smile" não podem ser colocadas em ordem. Não dá. Nem mesmo para músicas "só" legais como "Love Boat Captain". Poderia ir nessa lista por horas a fio, e ainda assim mudar a ordem até desistir, e não é por isso que escrevo.

Escrevo em agradecimento, pura e simplesmente. Agradecimento por fazerem dos meus dias experiências melhores, por falarem "por mim", por me deixarem emocionado, por me mostrarem qu eu consigo, sim, realizar sonhos por conta própria, por me levarem à Europa, por simplesmente estarem aí por mim e para mim, mesmo sem saber e com tantos desencontros. Chorei, e como, ao ouvir "Elderly Woman Behind The Counter In a Small Town" ao vivo na Bélgica, mas foi um choro bom, lavou a alma, ainda que algumas coisas posteriores, que ainda precisam de definições melhores do que "tristes", quase tenham colocado em cheque toda essa fanhood, se é que tal palavra existe. Agradeço também por mostrarem ao mundo que existem americanos conscientes do que se passa nos EUA, coisa rara de se achar.

E, se posso fazer um pedido, é para que voltem logo ao Brasil. Poucas coisas poderiam me fazer tão feliz quanto vê-los na minha terra que tanto amo e que tanto gosta de vocês. Mas o tempo vai cuidar disso, e tenho certeza que ele nos será favorável a todos, já que a mim foi e muito. Digo isso com um sorriso no rosto, mesmo tendo esperado 7 anos desde a minha primeira chance perdida.

Eddie Vedder e Pearl Jam, obrigado.

Do amigo e fã,

Paulo Tiago Sulino Muliterno

* * *

- Glad to have you back, Paulo.

As seis palavras que me bastariam. Só.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Malucos, e com detalhes

Martin Luther King, Jr. começou seu discurso em Washington com uma frase que entraria para a posteridade, "I have a dream", seja como referência ou como motivo de piada para Homer Simpson. Uma galera (e põe gente nisso!) lá na Bíblia teve revelações ou anúncios por meio de sonhos, e isso até livrou a pele de José no Egito. O Van Halen canta sobre os tais "dreams" e do que eles são feitos - amor e aquela coisa de que eu consigo mesmo com todos os obstáculos. Não vou falar sobre o "sonhador" de Leandro & Leonardo. Mas e quando seus sonhos não fazem o menor sentido, ou eles são pesadelos recorrentes com coisas medonhamente mundanas?

Freud colocou a coisa como, basicamente, "a realização de desejos, disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico", e se nós temos consciência disso, são sonhos manifestos. Já os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçam acordar a pessoa são chamados "conteúdo latente do sonho". Bonito, né? Pois é, mas como a gente vai chamar de "desejo" se atrasar pra uma entrevista estranhíssima às margens da Marginal Pinheiros porque o ônibus saiu da sua casa, foi pra USP em coisa de 10 minutos e subiu numa árvore? Ou mesmo estar subindo uma rua perto da sua casa, sendo que não tem céu, e de repente seus amigos passam rolando, pelados, abraçados uns aos outros? Sem contar que dá pra chamar pesadelo de "desejo inconsciente"? Claro, se o sujeito é masoquista e sonha com chicotes, bom pra ele, e Freud até disse que isso é resultado de desejos sádicos, mas pesadelos com morte, por exemplo, que interrompem os sonhos são o quê, então? O pessoal lá na ilha do "Lost" deve saber bem, porque tem cada coisa de louco...

Claro que muita gente prega simbologia para os sonhos, o que não quer dizer que sonhar com uma palmeira ou palmito é sinal de que o cara ou a menina estão no repouso do lar com os dentes cravados na fronha do pobre travesseiro. Mas, como eu disse, acabei por indo pesquisar umas coisas quando vi que todo santo pesadelo que eu tenho acontece na escola ou tem a ver com meu trabalho que, por sua vez, é onde? onde? onde? Numa ESCOLA! Isso ae! E o que me veio? "ESCOLA — Na vida: experiência. No amor: crescimento." Se for isso tá até que bom, porque sonhar, por exemplo, que sua professora de biologia do colegial é amigona de uma pessoa que você conheceu tempos depois, estando no colegial com 23 anos, só pra ver ela contar seus podres e falar das suas pernas é realmente algo de experiência. Medo.

(como se sonhar com a Minnie e o Saddam no mesmo parque fosse uma coisa muito mais interessante)

Pra quem tem curiosidade, é só procurar alguns desses sites de manual de sonhos ou qualquer coisa que o valha. Mas que é legal sonhar, isso é, ainda mais quando você tem pessoas no meio. Quem não gosta de saber que tomou parte em um sonho? Seja sóbrio, bêbada de verde numa festa do Hawaii, rolando na rua ou pelado, é legal e eu faço questão de anotar pra contar pras pessoas depois, porque a gente vai acabar esquecendo, especialmente se os seus tiverem detalhes tão bizarros quanto os meus. Faça isso você também, e quando notar que tem uns que nem José nem Freud explicam, faça como eu: dê risada de tudo, mas fuja da escola. Eu sempre faço isso nos tais sonhos.

PS: já que eu falei lá em cima, não custou nada. Boa sorte, especialmente se tiver muito palmito. PALMEIRA — Na vida: prejuízos. No amor: solidão. PALMITO — Na vida: bons negócios. No amor: felicidade.