terça-feira, 10 de abril de 2007

Braço Universal

Há temas que são ditos universais, como o amor ou mesmo a vingança, e sempre que se pensa nisso - ao menos em termos de literatura -, o nome de Shakespeare (vulgo 'Bill') é o que vem à cabeça de qualquer um. Afinal de contas, o que Romeu e Julieta tinham é algo que qualquer casal vai ter, igualzinho, hoje em dia, ou a vingança do mouro Otelo é também bem parecida com a de qualquer marido que se considere traído. Mas há quem discorde, pois amor é amor, sim, mas as circunstâncias, "tipos", variantes e afins fazem com que esse papo de universal meio que caia por terra. Vingança, por exemplo, é aceita em algumas culturas, não é bem vista em outras, normal. Podemos pensar em conceitos de beleza, e aí sim as diferenças saltam aos olhos. Magrelas ou gordinhas, homem peludo ou liso, bombado ou magrelo, peito ou bunda...

O que seria, então, uma coisa universal? Esse fim de semana tive um insight, pois o fato se repetiu algumas vezes, e junto com inúmeras vezes que presenciei tal coisa, me veio uma das respostas. Claro que você pode discordar, soltar um "Ah, comigo não tem isso", mas só está desculpado pessoas que são assumidamente braço (ou navalha, barbeiro, como quiser) ou aquelas que não tem habilitação. O fato é que ninguém suporta palpite quando estamos dirigindo. Não dá. Palpite (não confundir com conselhos) já é uma coisa chata - meninos hão de se lembrar de seus dias de fliperama com um chato que sabia jogar do lado - e quando se trata de carro fica pior ainda. "Abaixa o farol", "vai mais devagar", "pra que meter o pé no frio assim?", "muda de faixa" e afins, sendo que muitas vezes não estamos fazendo nada de mais MESMO (apesar de que o lance da velocidade e álcool misturado com volante são coisas sérias, e aí os tais palpites são mais do que bem-vindos; são necessários).

Quando nosso chefe nos dá uma carcada, mostrando claramente que fizemos uma cagada, tudo bem. A gente ouve, aprende e, por mais que fique com um pouco de raiva ou ressentido por ter tido nossa atenção chamada, dá até uma sensação de "que bom, agora eu entendi o que eu preciso fazer". No geral temos isso de aprender coisas novas, mas a direção tem um poder incrível, que me faz lembrar de um desenho da Disney, antigo, em que um sujeito comum e tranquilo se tornava um animal quando sentava atrás do volante, era engraçado.... uma coisa meio que de liberar o animalzinho que há dentro de nós. Mais ou menos como o Edmundo fazia nos anos 90 em campo, distribuindo porrada, ou alguns homens fazem no meio de uma briga generalizada (e dá pra não pensar em futebol?). Mesmo que a gente dê uma fechada, é CLARO que foi o filho da puta que vinha atrás que não viu que a gente ia virar, e pára de me encher que eu sei dirigir, cacete! É como se fosse uma arte milenar e cada um de nós tem suas técnicas, que só precisam de ser aparadas logo no começo, então até completar 1 ano de carteira, o passageiro tem o direito de falar.

Os pais são a pior parte, porque muitas vezes eles nos ensinam a dirigir, muito obrigado. Daí você começa, eles miguelam o carro, mas vão liberando, começando por ir buscar a avó pra ir à missa, ou compras no supermercado - nada de balada. Daí o tempo passa, você pega prática, compra o carro, paga o bendito IPVA, renova a CNH... mas eles ainda falam com você como se tivesse começado ontem. Não que sejamos pilotos profissionais, mas tem coisa que não dá, que nem o tal do "pé pesado" (ir a 60 km/h na Faria Lima é correr, claro) ou mesmo a cabeça na frente do espelho retrovisor, porque quem tem que ver não é você, ao dirigir, mas seu pai sentado no banco passageiro - claro que segurando o famoso puta que pariu, porque você não tem carta de habilitação, parece ter porte de arma.

A verdade é praticamente TODO MUNDO fica puto da vida com palpites no volante. E se for dos pais, mais ainda. Mas o negócio é simples: chegar pra mãe, por exemplo, na cozinha, e começar com uns "Abaixa o fogo" ou "Troca de boca no fogão, hein?", ou pai fazendo o IR, começa com "Colocou a poupança?" ou "Declarou o carro?". É tiro e queda, porque se ela falar "Quem tá cozinhando?", você vai ter uma resposta pra quando estiver dirigindo.

Ou então dá um jeito de eles dormirem. Não é tão fácil, mas é ótimo.

6 comentários:

Unknown disse...

Curiosamente, só poderia ser você pra me fazer gargalhar nesse fim de noite!!!!!! =)

Ana Elisa Gusso disse...

No meu caso, além dos palpites da mãe, é claro, o pior é a encheção do meu irmão, mais novo, e que nem dirigir sabe. Esse fim de semana ele completa 18 anos, mal posso esperar pra ele fazer auto-escola de uma vez e começar a dirigir pra ele sentir na pele o que eu sinto... Hahahaha!

Sandro Livio Segnini disse...

A Suzanne Richtoffen tinha esse mesmo problema...

Renata disse...

Além de concordar com o Sandro, ainda defendo seus pais na hora que eles dizem "você vai sair vestido assim?" quando vêem o filho usando uma calça de couro enfiada no rego, estilo Zezé di Camargo, sedento de vódega rumo ao Víla Cáuntri (fazendo cara de nojinho). Não é encheção de saco, nem falta do que fazer... pelo menos na minha humilde opinião.
Morar longe dos pais nos tira isso também, mas sabe que quando estamos na casa deles eles soltam umas dessas? Do tipo:
- vai voltar tarde?
- Não, mãe... vou voltar cedo. 7 da manhã.

Mentira... no território deles, eu respeito. Acho melhor assim.

Sandro Livio Segnini disse...

Escreva mais Paulo!
Preciso fazer mais comentários imbecis!

Thais Pryscilla disse...

Hahahaha! Suzanne Richtoffen! Hahahaha! Eu costumo seguir a linha de devolver na mesma moeda! rs... E não acho que seja vingança cornetar eles também. O mesmo cuidado que os meus têm comigo, eu tenho com eles! rsrsrsrs Não é pq têm 40 anos de carta que não erram! rs... E o pior é quando você justifica assim! rs...