segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Daslu

Eu ia postar sobre as eleições, mas esse texto merece ir na íntegra. Essa é nossa classe média e alta. Será que agora consigo pessoas pra me ajudar a colocar bombas na loja - com as consumidoras dentro dela?

A parte em negrito é grifo meu, e me fez ficar com vontade de achar essa mulher, amarrar a condenada num poste e queimar todas as bolsas e sapatos dela na frente dela.

* * *

Em dia de eleição no Brasil, patricinha paulistana elege Daslu e fica na fila de bazar

PAULO SAMPAIO

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos eleitorados mais fiéis de São Paulo esperou ontem até três horas em uma fila cheia de curvas para "dar seu voto" ao bazar da butique Daslu, inaugurado em um galpão da Vila Olímpia (zona sul) e com descontos de até 90% nas grifes.
Entre as 11h e as 15h30 -quando o repórter precisou sair para votar-, o bazar recebeu cerca de 1.200 pessoas.
Patricinhas levemente coradas (depois de aplicar o "bronzing powder, da MAC"), cabelos esvoaçantes e bolsas gigantes contavam que seus candidatos eram Alckmin e Kassab, nessa ordem -mas ambos perdiam de longe, nas conversas, para nomes como Chloé, Valentino e Tod's.
Marta, freguesa das grifes, era pouco -ou quase nada- votada ali: "Eu conheço a vida pregressa dela. O povo não sabe história do Brasil", disse, enigmaticamente, a empresária Ruth, 54.
A advogada Carolina Paione, 32, explicou seu voto para Kassab: "Tenho que garantir o emprego do meu marido, que é advogado na Subprefeitura de Cidade Ademar (zona sul). Eu garanto o emprego dele, e ele garante as minhas compras na Daslu".
Houve vaia para os eventuais furões de fila, aplausos quando entravam dez de uma vez e frustração por parte de quem não achava "uma peça que justificasse tanta espera".
Como a maioria das moças ali, a administradora de empresas Carol Viegas, 31, disse que não enfrentou fila para votar, mas se assustou com a espera de até duas horas para pagar. "Peguei três blusinhas "furrecas", ainda por cima da estação passada, e, quando olhei para a fila, larguei tudo lá. Pode pôr aí: maior "mico"."
De repente, próximo à porta de entrada, vaia: "Uuuuu!". Um rapaz tentou furar a fila. "A mulher dele está lá dentro, grávida!", apelam as cunhadas de Hali, dizendo que ele é judeu ortodoxo inglês e está pela primeira vez no Brasil.
"E daííííí?", grita a turba, agora duplamente corada.
Na fila, mulheres enfiavam o rosto nas sacolas das que saíam, perguntando "Valeu a pena?". "Olha, esquece as bolsas, não tem mais!", diziam as que vinham de dentro.
Uma funcionária da butique passou servindo garrafinhas de água, que, depois de consumidas, eram jogadas no chão. Dentro da loja, mulheres desbaratadas catavam ansiosamente peças pelo chão.
Nos provadores gigantes, muitas corriam peladas, arremessando longe o que não servia, como se estivessem em uma gincana nudista.
Depois de três horas e meia acompanhando o "happening", o repórter saiu para votar. Levou 1 min 40 s.

2 comentários:

Babi Vieira disse...

Só não rio pq minha indignação não deixa. Palhaçada.

Wolf disse...

Sobre colocar bombas em lojas e rebeliões da classe média, sugiro o penúltimo livro do J. G. Ballard: Millennium People. Abs, Wolf.