or how you'd have a happy life if you did the things you like"
-- nunca tinha percebido como gosto desse trecho de The Dark of the Matinée, do Franz Ferdinand. E como é certo isso que eles cantam.
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Já falei aqui da minha relação com livros e acho que já deu pra ficar bem claro que tem uma coisa muito forte, mas muito mesmo, com filmes também. Daí que semana passada eu finalmente acabei de ler Slam, do genial inglês Nick Hornby e, no busão indo pra BH, li o trecho que fala sobre o nascimento do filho do Sam, protagonista do livro - e babei. Não entendeu?
Sam é um garoto de 16 anos, skatista e londrino, que arruma uma namorada, Alicia, e ela fica grávida. Só que a mãe dele o teve com a mesma idade, é divorciada do pai e a família da Alícia, claro, não gostou nada da idéia. De quebra, ele conversa com o pôster do Tony Hawk que ele tem pregado na parede do quarto, sendo que o tal pôster só responde com trechos do livro que o próprio TH escreveu sobre sua vida. Basicamente é isso, e não vou ficar falando aqui por horas sobre o livro, até porque tenho uma tendência péssima a ser spammer de mão cheia. Mas pelo menos pra uma coisa eu vou ser: o nascimento do filho, Roof. Quando li que o menino tem esse apelido por se chamar Rufus, não entendi muito bem, mas foi assim: na hora do parto, a mãe da Alicia tinha colocado um CD, e a faixa em questão era de um cara chamado Rufus Wainwright - que já tocou no Brasil, e é ótimo compositor -, vindo daí o nome do filho. O trecho com a piada do nome Coldplay Burns ou Coldplay Jones é hilário, mas o cerne da passagem, pra mim, foi como escolheram o nome, e isso foi fantástico! Daí pensei: vou tentar fazer a mesma coisa, e deve ser mais fácil com um iPod (se até lá ainda não tiverem roubado o que eu tiver). Ou mando uma carta pro Nick Hornby, pedindo pra ele bolar uma nova, e até prometo que o segundo pimpolho vai se chamar Nick.
Daí me veio que, pensando que eu queria algo legal assim pro nascimento do meu filho, já pensei nisso antes, com o Tim Burton e pensando no momento da minha morte. Trágico? Nem um pouco, é só ver Peixe Grande, uma obra prima longe de ser seu melhor filme, menos pra mim. Se você não faz idéia do que eu estou falando, tire essa bunda da cadeira e vá ver o filme, eu até te empresto, porque tenho aqui. O pega na net, por torrent, sei lá. Mas imagine aí como seria uma morte calma, pacífica, ao melhor estilo do melhor contador das melhores histórias que você consegue imaginar, indo até onde sua imaginação puder te levar. É assim que Will Bloom conta para seu pai, Edward, no leito de hospital, como seria a morte dele, já que o pai era o maior contador de histórias do filme - não é a toa que o filme tem, em português, o "e Suas Histórias Maravilhosas" no título. Eu que sou contra isso achei bem apropriado, e choro toda vez que vejo tanto a morte contada quanto a morte real. Acho que, se eu pudesse, pedia para o Tim Burton escrever a minha morte, nem que fosse pra que ela fosse contada ao invés de algo simples como morrer dormindo, ou estúpido como um acidente.
Filho e morte, certo? Bom... daí fui pro casamento. Tudo bem que tem cenas e cenas e cenas de casamento, mas a de um filme de que até já falei aqui me veio: El Hijo de la Novia ("O Filho da Noiva"). Ok, não quero me casar tão velho, mas ver os Belvedere casando de um jeito tão bonitinho me fez pensar que, se até lá eu estiver como eles, apaixonado, faço questão de me casar de novo, como Nino, o pai, faz. Juan José Campanella, escreve pra mim essa? Mas, por favor, não precisa fazer com que minha mulher esteja esclerosada e meu filho tenha passado por um ataque cardíaco, porque as coisas podem ser um pouco mais fácil. Mas, se tiver comida argentina, eu bem agradeço, especialmente as carnes e mascarpone. Valeu, hein?
Mas aí eu travei, pensando em como eu gostaria que fosse o meu casamento, ou minha formatura daqui a alguns anos (Legalmente Loira passou longe), e vi que... sei lá, não vi nada - só a menina do outro lado do corredor do Cometa me encarando. Acho que seria muito legal poder ter as coisas escritas para mim, até mesmo uns episódios tão bons quanto os que tem no livro Ria da Minha Vida Antes que Eu Ria da Sua, que foi surpreendentemente engraçado - pelo menos o primeiro, como no episódio do arroto da pizza, que me fez rir alto no ônibus, mas aqui em São Paulo mesmo. Só que, no fundo no fundo, eu quero mais é que tudo venha como vier. Não teve filme que me mostrou uns corações partidos tão bons quanto o meu, ou que me mostraram como o mundo é cão como algumas coisas que eu vi e vejo todo dia mostram (a exemplo do menino assaltado na Sta. Cecília). Por um lado é muito bom, porque essa parte difícil a gente só aprende escrevendo enquanto vai vivendo, não tendo um script pronto, e por linhas tortas, escrevemos ora certo, ora errado.
Mas, se a gente pedir com a jeitinho, será que um dos três aí em cima, ou mesmo outros escritores e roteiristas tão bons, não escrevem um pouco mais do mundo pra gente? Garanto que o mundo seria um lugar mais bonito, mas como não dá pra mudar a realidade, eles continuam a brincar com nosso imaginário, e por isso eu sou agradecido, por me darem um certo refúgio de tanta loucura. E, como ainda tem tempo, eu agradeço se puderem fazer essas que eu marquei aqui. Custa nada, vá. Até convido os três pras festas.
3 comentários:
Bom, eu já tô na fila do “Peixe Grande”!! Mas “El Hijo de la Novia” já tive a oportunidade de assistir e digo que é mesmo apaixonante e envolvente o amor dos Belvedere. Assisti, aprovo e concordo (aliás, ¡muchas gracias!). Mas obviamente que o livro da vida, escrito por nós mesmos, com passagens boas, tristes ou engraçadas, é o melhor livro que podemos não só ler, mas também construir, pois é com ele que aprendemos passo a passo como fazer a diferença. E ainda tem como co-autor Deus e, de presente, as páginas que Ele nos deu para escrevermos: a vida!
(Acho que consegui expressar tudo o que senti e pensei quando li. Viu como não era preguiça?! Ufa!!)
No Nick Hornby, onde vc escrever "spammer", acho que vc quis dizer "spoiler". Como sou sua amiga, vou deixar passar. Mas só dessa vez.
Bem que aquilo não tava me soando bem...
E me veio que eu não gostaria de ter o Machado de Assis escrevendo NADA da minha vida.
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