"You need passion, we need passion
Can't live without passion
Won't live without passion"
-- vai parecer piada, mas isso é Rod Stewart, em Passion.
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Pessoas sem uma paixão na vida são um caso complicado. Ou algumas, não precisa ficar preso a alguma coisa só. Meu pai, que talvez seja meu maior role model, pro bem ou pro mal, me mostra uma coisa que eu não quero ser, e acho que não vai ser o caso: uma pessoa sem paixões.
"Ah, mas eu amo meu namorado, sou apaixonada por ele", diria alguém. Que bom, mas não é disso que eu tô falando. "Sou apaixonado pela minha família". Legal, eu também sou, mas não é isso. "Meus amigos são a paixão da minha vida". Também não, até porque nesse caso é uma coisa que talvez só eu seja de fato no meu household - e isso não tem a ver com a quantidade de amigos (ou melhor, amigas?) que eu tenho, como algumas pessoas já notaram.
Eu falo de paixões SUAS. Eu conheço gente que tem verdadeira tara pelo trabalho, chega a fazer um workaholic parecer um vagabundo, mas não pela quantidade, mas sim pelo empenho, pela empolgação. Tenho amigas, eu diria, cuja paixão é o teatro, e eu gosto de ver como elas ficam quando falam sobre isso, especialmente se é o caso de uma peça delas. Alguns dos meus amigos são loucos pelos times de futebol, e pelo esporte em si. Um ex-aluno meu - acho que posso dizer "meu amigo", apesar de ele me chamar de teacher até hoje - é bem caladão, mas falar de música com ele faz com que o bicho mude. Algumas pessoas são apaixonadas por viajar, conhecer novos lugares - e não é só gostar, é AMAR a coisa.
No meu caso, acho que é literatura, mais até do que música ou cinema. Claro, o livro do Pearl Jam foi o fruto de alguém conhecer essa paixão que eu tenho, e mais especificamente uma vertente que até então ninguém (friso: NINGUÉM) sabia: os tais cartazes de shows. Mas talvez nada faça meus olhos brilharem tanto quanto falar sobre livros, impressões, explicar, mostrar conexões, falar da relação deles com o mundo. Curiosamente, eu percebi isso nos EUA, por causa de um sorrisinho bobo (no melhor sentido da palavra) e um "You should see the way your eyes shine when you talk about books", porque eu falava sobre 1984 e Admirável Mundo Novo.
Acho que o que eu quero dizer é que não é ruim ter como paixões sua família e seus amigos, como metade do orkut gosta de dizer. O que eu penso é que... sei lá, parece que a pessoa, ou a vida dela, fica meio vazia sem mais nada. Eu gosto de ouvir alguém falar de coisas pelas quais ela é apaixonada, e pode ser biologia, mas é uma coisa da pessoa, na qual ela pode se aprofundar, se soltar, se empolgar, sem necessariamente depender dos outros. Isso se reflete nas conversas, e quem me conhece sabe como isso pesa pra mim, até porque eu sempre brinco dizendo que uma hora tudo que a gente vai ter pra fazer na vida vai ser conversar com os outros. Falar dos outros é legal, contar histórias também - eu que o diga -, mas tão bom, tão legal quanto isso é falar e ouvir também alguém falar, com os olhos brilhando, sobre alguma paixão e ver o porquê daquilo ser o que é pra pessoa, e que isso não seja contar o que os outros fizeram.
Confesso que sempre que escuto alguém fico até com uma ponta de inveja, sabe? Acho que é porque me fica uma coisa de "Isso parece ser tão bacana, como eu nunca fui atrás antes?", e daí me vem a vontade de ler, ver, ouvir, aprender. Só que nem sempre eu vou porque, por outro lado, gosto de saber que aquela não é a minha paixão, é a de alguém, e talvez seja justamente por saber que eu sempre vou poder aprender um pouco mais, alguma coisa nova, que essa pessoa me cause a admiração que eu sinto por ela.
E, sinceramente, todo mundo tem essa capacidade. Sou da humilde opinião que eu consigo ver isso e até que bem, e por isso ainda sou tão fascinado pelas pessoas. Talvez essa seja minha real paixão, justo com o Guimarães e o Drummond, claro.
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Agora, comenta ae: o que te move, hein? Sem mentir!